Harry Potter, coadjuvante de seu protagonismo
O fato de as coisas “acontecerem” para Potter, muito mais do que ele as fazer, surge com um recado metalingüístico, bem humorado, em uma cena na qual aprofessora Minerva pergunta a Harry, Weasley e Hermione “por que sempre que há alguma confusão vocês três sempre estão presentes?” ao que Weasley responde “eu me faço esta pergunta há seis anos “.
O bem versus o mal. A honestidade versus a trapaça. A luz versus as sombras. A saúde versus a doença. A sanidade versus a loucura. Tais temas, que chegaram a ser supostos como forças individualmente existentes no Universo por Maniqueu, são a base de todo a série Potter.
Nisso, alia-se ao mais básico em literatura, em artes dramáticas. É o mesmo tema recorrente da série georgelucasiana Star Wars - por sinal a firma dele é responsável pelos exuberantes efeitos de mais um Harry Potter nos cinemas. E são dezenas, centenas de pessoas nos créditos envolvidas com animação digital e suas “interfaces”.
Apesar de Potter ser um personagem quase patético, sem lhe tirar os méritos de sua bruxalidade, por não protagonizar seu protagonismo, ser meio paralelo a si mesmo, as estórias trazem a rica moral sobre os cuidados que devemos ter no uso do que temos à nossa mão. Nossos talentos, vocações, ambição, vontades, exercício, desempenhos, poder ser e fazer.
Há o lado negro da força, bem como há o lado negro da bruxaria - da magia. A série Potter é bem posterior à Star Wars. Ambas lidam com a mesma mitologia ancestral.
A magia , aliás, que voltou com toda a força, nas últimas décadas, pareada por um desinteresse no cristianismo, a religião [oriental] do Ocidente. Nos EUA, o fenômeno é diferente, pois o país é intensamente cristão e praticante. O mesmo não ocorre na Europa continental, onde a fé cristã perdeu muita força no século XX. O mesmo na Escócia, terra natal da autora da série, J. K. Rowling. No Brasil, a força do cristianismo é mais patente entre as classes mais baixas e em cultos não-católicos. Nesse contexto, a magia da mágica e não da religiosidade ganha fanáticos adeptos seguidores.
A Escócia, aliás, é o cenário ideal para filmar, bem como para situar a série Potter. Seus lochs (lagos, fiordes) cercados de montanhas e florestas de pinheiros, seu céu cinza, o frio quase todo o ano, as poucas horas de sol no Inverno, os castelos, os mitos e lendas ... E a elegância de uma escola grã-bretã, claro.
Mesmo que Potter seja secundário à sua própria importância, em cada momento no qual age - tem sempre alguém para salvar a pátria, seja Hermione, Luna ou Dumbledore - seu personagem e suas estórias deleitam milhões ao redor do mundo e, mais uma vez, milhares em Porto Alegre irão aos cinemas. Mas, atenção.
E não poderiam ser mais de sete histórias, uma série baseada na magia, no encantamento, no impossível. Afinal, o sete e seu significado místico seriam violentados se assim fosse. J. K. certamente sabia disso. Tanto que tudo termina no sétimo episódio. A menos que Hollywood queira diferente.
A grande moral da história deste mais um Harry Potter é que as pessoas de bem devem fazer algo, caso contrário, o mal triunfará, como bem ensinou E. Burke no século XVIII (“a única coisa necessária para o triunfo do mal está em as pessoas de bem nada fazerem”).
Mesmo atônito, ignorante, indeciso e com medo - Harry faz. Uma lição para um povo preponderantemente covarde - que aceita tudo - como o brasileiro.
Neste sexto Potter, os fios soltos da narrativa (bastante solta em fios, diga-se de passagem, bastante fragmentada, ao final amarrada) de outros episódios são atados e personagens revelados para qual lado da força, ôps, da magia, agem.
Harry Potter and the Half Blodd Prince (Harry Potter e o Príncipe Mestiço), traduzido para “E o Enigma do Príncipe” – talvez por ser incorreta a palavra ‘mestiço’ em um país no qual o governo discrimina (distingue) o inexistente: raças de humanos.
Os atores, já adultos, enganam, ainda, como adolescentes. Grande esforço da maquiagem e da manutenção da magreza.