A legenda da foto, pertencente ao Museu de Porto Alegre, diz "Ponte de pau do arraial Menino Deus", localizava-se sobre o Riacho, onde hoje é o encontro das avenidas Getúlio Vargas e Érico Veríssimo. Foi destruída em uma das muitas enchentes. A imagem é do século XIX, provavelmente anterior ao bonde a burro, logo, antes de 1863
Segue a íntegra do texto da presidente da Assamed, Alzira Dornelles Bán, publicado parcialmente na página 10 da edição impressa do Folha do Porto, dezembro de 2006
É necessário cultivar e guardar os traços de identidade do lugar a que se pertence, pois o ontem faz com que se estabeleça a seqüência para permanecer. É assim que se pode saber que pelos 1871 o Menino Deus já era considerado "bairro" e que foi de grande atração à vida da Capital.
As festas natalinas começavam com a Missa do Galo, na meia noite do dia 24/12, prolongando-se até o Dia de Reis (seis de janeiro), quando parte da população de Porto Alegre se deslocava, dispondo de transporte de hora em hora, na ida, até porque a distância era considerável.
As festas do Menino Deus eram tão importantes que o próprio presidente da província intervinha se os acontecimentos não estivessem se realizando conforme o esperado. Comprova-se, pois, em 1860, o Dr. Joaquim A. F. Leão dirigiu-se à Câmara de Vereadores, solicitando exame e conserto da ponte sobre o Riacho da rua Menino Deus (hoje, avenida Getúlio Vargas), pois a passagem deveria oferecer segurança ao movimento e trânsito de veículos que ali se efetuaria.
Origem açoriana
Menino Deus é típica evocação açoriana, consagrada na época de Dom Pedro II de Portugal (1648-76), por ter reconhecido como milagrosa a pequena imagem existente desde meados do século XVI, na Confraria dos Escravos do Menino Deus, na Vila Nova da Praia (Praia da Vitória/Angra do Heroismo), na Ilha Terceira, do Arquipélago dos Açores, hoje tombada como patrimônio da humanidade.
Desde a cura da Infanta Dona Maria Izabel, filha do Rei Dom Pedro II de Portugal, a imagem passou a se chamar Menino Deus da Real Proteção. A história da ilha registra grandes acontecimentos relacionados àquela imagem. Os açorianos trouxeram para o Porto do Dornelles (atual Porto Alegre), vivamente, aquela devoção, que se tornou porto-alegrense e nominou o bairro mais antigo da capital.
A paróquia
A Paróquia do Menino Deus, neste Natal, completa 153 anos de sua inauguração, como antiga capela e, em 25 de janeiro de 2007, completar-se-ão os 123 anos de criação da Freguesia do Menino Deus, primária estrutura civil, já, então, criada com fins eleitoreiros.
Desde 1853, com a inauguração da capela, o Natal meninodeusense era famoso e a principal festa da paróquia, movimentando o arraial.
Primeiro sacerdote
Foi o frei Caetano de Troina, italiano da Sicília, que, aqui, viveu por 19 anos. Era uma veneranda figura que, após a Missa do Galo, permanecia no Adro da Igreja, em palestra com os líderes da freguesia, então um sítio alegre e ruidoso.
Já o primeiro vigário foi o padre João Pereira da Silva Lima.
Os templos
A capela, até o início do século XX, tinha o feitio de uma cruz, com a torre no meio, próximo à qual, estava o Império da devoção do Menino Deus. Era um bairro aristocrata, com chácaras e casas de bonito aspecto.
Em 1904, o pároco padre João Becker resolveu reformar a capela, conservando o estilo gótico, mas tornando-a maior. A nova igreja, com monumental torre, foi inaugurada em 06/01/1907. Durou 12 anos. Em dezembro de 1919, de madrugada, originou-se um incêndio na Casa Canônica, do qual apenas as paredes sobraram, para a reconstruir e reinaugurar, em 12/10/1920, pelo já arcebispo Dom João Becker.
Em 01/03/1930, Dom João Becker inaugurou o Colégio, dirigido, primeiramente, pelas Irmãs de Nossa Senhora e, partir de 1944, pelas Irmãs Bernardinas de São Francisco.
Em 26/07/1966, o pároco padre Armindo Cattelan constituiu uma comissão encarregada de estudar a reforma da velha igreja. No fim de 1969, foi aprovado o projeto do novo e atual complexo, tendo ali se realizado a última missa de emocionante despedida. A Missa do Galo de 1975 rezada pelo Vigário Padre Tarcísio de Nadal, marcou a inauguração da atual igreja.
Em fevereiro de 1976, foi erguida uma torre de concreto de 19 toneladas, mas, apesar de seu simbolismo, ainda hoje, não substituiu no coração dos moradores do bairro a bela torre da antiga igreja que era a característica do bairro, originalmente açoriano, depois siciliano e calabrês, sempre fraterno e devotado.
Esta história deve ser amada e aperfeiçoada, o que depende da comunidade, e que todos possam alcançar seus sonhos pessoais em torno do simbolismo que este templo deve significar para cada um.
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